LINHA FORD CORCEL (E HERDEIROS)
Em 1967, quando a Ford adquiriu o controle acionário da Willys Overland do Brasil, , encontrou quase pronto o projeto "M", que vinha sendo desenvolvido em parceria com a Renault.
O projeto "M" deu origem a um carro que, na França, se tornou o Renault 12 e, no Brasil, o Corcel.
Aqui,
sua carroceria seria diferente, mais adequada ao gosto brasileiro (e mais
bonita que a versão francesa).
Em dezembro de 1968, no VI Salão do Automóvel do Anhembi, em São Paulo, foi apresentado o (Ford) Corcel.
A
primeira carroceria lançada foi a Sedan 4 portas que, definitivamente, não
tinha o DNA Ford.
O
painel tinha acabamento caprichado e o espaço interno era bom porque a tração
dianteira proporcionava mais espaço para as pernas do passageiro sentado no
meio do banco de trás.
A
exemplo do Renault Gordini, o capô do motor adotava abertura de trás para
frente, revelando preocupação com a segurança. O amplo porta-malas atendia às
necessidades de uma família de classe média.
Abaixo,
um raro exemplar 4 portas da primeira safra, ainda com enorme volante do Aero
Willys e banco dianteiro inteiriço:
As
rodas de aço de 13 polegadas tinham apenas 3 parafusos de fixação, outra
herança do pequeno Renault. No mesmo
Salão do Automóvel foi exibido o sedan Volkswagen 1600 4 portas (Zé-do-Caixão)
e um carro de segmento superior, o Chevrolet Opala, mas nenhum dos dois
concorreu de fato com o Corcel.
Não
custa lembrar que em 1968 a linha DKW não mais existia (tinha sido extinta em
1967) e os demais carros nacionais fabricados eram todos de porte maior (Ford
Galaxie, Chrysler Esplanada/Regente, FNM 2150, Aero Willys, Itamaraty) ou menor
(Fusca). Além deste havia os utilitários Chevrolet Veraneio, Ford Rural e VW
Kombi. Então, o concorrente “ Zé-do-Caixão” não incomodou o Corcel. A
propaganda da Volkswagen insinuava uma beleza que o sedan quadradinho
definitivamente não tinha. Assim, o Corcel só não faria sucesso se fosse um
péssimo carro... mas o conjunto da obra se revelou superior ao Volkswagen 1600
4 portas.
A
suspensão era eficiente e a tração dianteira proporcionava boa estabilidade.
Mas o alinhamento da direção era sofisticado para a época mas a sua
desregulagem desgastava muito os pneus dianteiros. Isso ocasionou o primeiro
recall da indústria brasileira, envolvendo 65 mil proprietários de Corcel. Foi
constatado que o desalinhamento da direção estava relacionado à regulagem
complicada da convergência das rodas dianteiras...
Em 1969 surgiu a atraente versão Cupê 2 portas, mais "esportiva", e que logo seria a mais vendida.
Um
interessante detalhe: os vidros laterais traseiros arriavam completamente,
aumentando a ventilação para os ocupantes do banco traseiro (esse importante
detalhe acabou se repetindo no Chevrolet Opala Cupê, em 1972).
Com
a versão Cupê o Corcel conquistou uma clientela maior de pessoas com perfil
mais jovem (quem comprava um Karmann-Ghia sabia que era um carro fraco de
desempenho, mas com forte apelo visual).
A
propaganda da nova versão GT (abaixo), baseada na carroceria cupê, insinuava
uma esportividade que o modelo, infelizmente, não tinha.
Havia
uma faixa preta no centro do capô e outras na lateral que davam o toque
esportivo.
Um
par de faróis de milha, redondos, chamava a atenção e eram afixados na parte
superior do para-choque, entre as garras de proteção.
O
enorme volante era o mesmo do Willys Itamaraty, mas com um aro da buzina
imitando madeira, acrescido do distintivo GT.
A
cor do estofamento podia ser na preta, marrom-claro ou vermelha, dependendo da
cor da carroceria.
Itens
como Rádio de 5 faixas, ventilador, cintos de segurança e pneus com faixa
branca eram opcionais!
O
novo modelo pesava 10 Kg a mais que o sedã, mas seu motor 4 cilindros 1.3 agora
rendia 80 cv (12 cv a mais) graças ao novo carburador Solex de corpo duplo,
válvulas maiores, novos coletores de admissão e escape. As marcas de aceleração
do Corcel melhoraram: de 0 a 100 Km/h em 18s. A velocidade máxima passou a ser
de 138 km/h. No autódromo de Interlagos o piloto Emerson Fittipaldi conseguiu
velocidades superiores a 142 km/h, em parte graças ao “retão” do autódromo
combinar com uma leve descida de um quilômetro de extensão. O uso de gasolina
azul, mais um carburador bem regulado (para uma mistura mais rica), e uma boa
regulagem das válvulas, deixavam o motor mais “nervoso” com pouco investimento.
No
fim de 1969 a constatação do sucesso: mais de 50 mil unidades vendidas!
A versão perua do Corcel recebeu o simpático
nome Belina (abaixo).
Seu
principal atrativo era o enorme porta-malas, cujo acesso era facilitado pela
ampla tampa traseira. O estepe ficava embutido numa das laterais.
Muito certamente para conter custos e oferecer um produto mais acessível, a Ford lançou a Belina apenas com 2 portas, embora houvesse um protótipo com 4 portas (vide abaixo):
Como era um carro com vocação familiar, a Belina tinha que ter sido lançada com 4 portas (a exemplo da Simca Jangada), mas infelizmente essa opção nunca foi oferecida - provavelmente porque acabaria custando bem mais que a rival VW Variant.
A
rival VW Variant, lançada no mesmo ano, tinha também apenas 2 portas, oferecia
dois porta-malas e logo revelou ser muito boa de revenda.
A
Belina tinha estrias de reforço no teto e traseira levemente empinada. A ampla
porta traseira facilitava a movimentação de carga. Com o banco traseiro
abaixado, tinha-se acesso a uma plataforma de 1,77 metro de comprimento por
1,22 m de largura e 0,85 m de altura.
Além
do motor standard 1.3 de 68 HP, havia uma versão mais cara com o mesmo motor
1.3, mas com 80 HP ( o mesmo do Corcel GT).
Havia
3 versões: standard, luxo e luxo especial – esta com laterais com apliques
sintéticos imitando madeira de jacarandá. Esse detalhe tinha como inspiração as
woodies (peruas com carroceria de madeira típicas dos anos 40).
Continua...
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