domingo, 21 de julho de 2024

SIMCA DO BRASIL - PARTE 1

A sigla SIMCA originalmente significa Société Industrielle de Mécanique et Carrosserie Automobile - era uma fábrica de automóveis francesa fundada em Nanterre, em 1935, pelo empresário italiano Enrico Pigozzi.


No começo da década de 50 a Simca havia escolhido o Brasil para ser a filial americana, e a ideia inicial era produzir em conjunto com a FIAT (que forneceria um novo motor, em substituição Ford Aquilllon, de 1932). Essa fábrica seria instalada na cidade de Santa Luzia/MG.

Com o suicídio de Vargas, em 1954, a Fiat desistiu do projeto.

Como o Plano de Metas de JK previa a instalação de uma indústria automobilística nacional, a Simca retomou o projeto.

1958 - A filial brasileira foi fundada em 5 de maio de 1958 e, aqui, a sigla SIMCA passou a significar Sociedade Industrial de Motores, Caminhões e Automóveis.

Ela ocupou as antigas instalações da Brasmotor (que montava carros americanos da marca Chrysler), situada no Km 23 da Via Anchieta, defronte à fábrica da Volkswagen.

O modelo escolhido para ser produzido aqui (CHAMBORD) era muito semelhante ao Simca francês VEDETTE.

Vide abaixo um dos primeiros modelos aqui vendido.


 

1959 - Após vários testes com 47 "Vedettes" franceses, é iniciada em 7 de março a produção do CHAMBORD no Brasil, com baixíssimo nível de nacionalização.

Na verdade os carros não foram produzidos aqui; vieram da França, completamente desmontados, sendo suas peças reunidas a algumas poucas aqui produzidas, como bateria, molas, tapeçaria, sistema de escapamento, mangueiras e outros pequenos itens.

Para se ter uma ideia, na soleira das portas vinha inscrita a palavra VEDETTE e não CHAMBORD... De qualquer forma, ele impactou o mercado de forma muito positiva. 

Medindo 4,75m de comprimento, era um elegante sedan com linhas tipicamente norte-americanas (rabo-de-peixe), 4 portas e capacidade para até 6 pessoas, com porta-malas igualmente amplo.

O motor Aquilon, apesar de V8, fora concebido na década de 30 e rendia apenas 88 cavalos. O câmbio tinha 3 marchas (a 1ª não era sincronizada), com alavanca na coluna de direção. Até que não era um carro tão “gastão” (fazia média de 8 Km/l), mas a velocidade máxima era bem modesta: 135 km/h, embora compatível com o calçamento precários das ruas e estradas da época.

A suspensão dianteira (McPherson) deixava o carro bem estável e absorvia bem as irregularidades do piso. 

Na época de seu lançamento não encontrou concorrentes, pois somente outros 6 veículos nacionais eram produzidos: a Romi-Isetta, a perua DKW, os VW Fusca e Kombi, além dos utilitários Jeep e Rural, da Willys – todos de segmentos inferiores. 

Mas o lançamento “precipitado” acarretou uma série de problemas, como a facilidade de superaquecimento do motor, a embreagem fraca (patinava constantemente) e a falta de torque, especialmente em baixas rotações.

1960 – Em 16 de abril foi produzido o 2.000º exemplar e, em homenagem à futura nova capital do país, foi pintado em duas cores: verde folha e marfim.

A fundição dos motores nacionais teve início em 30 de agosto. Nesse ano a WILLYS OVERLANDO DO BRASIL lançou o AERO e a FNM começou a produzir o JK, o que obrigou a SIMCA a agilizar a solução dos problemas de seu belo automóvel.

Surpreendentemente, em setembro foi lançada uma nova versão, topo de linha, denominada PRÉSIDENCE. Ela era facilmente reconhecida pelo estepe pendurada na tampa traseira.


A maior diferença de estilo do PRÉSIDENCE era o “estepe continental” 
(preso do lado de fora, na tampa do porta-malas).

Internamente, destacavam-se os bancos de couro, ar condicionado, luzes de leitura para os passageiros, rádio de longo alcance e até bar com copos de cristal no compartimento dos passageiros. O motor, com dois carburadores de corpo duplo e uma taxa de compressão maior, rendia 94 cavalos.

 

 

1961 – Em abril foi lançada a “Segunda Série” do CHAMBORD, com índice de nacionalização próximo de 90%.


Foram adotados novos frisos laterais e um emblema em forma e andorinha, montado em ambos os pára-lamas dianteiros.


Em outubro as calotas raiadas foram substituídas pelo estilo “turbina”, com imitação de “cubo rápido”. Nesse mês foi lançada a linha 1962.

1962 – Em abril foi lançada a série “Três Andorinhas”. Os motores sofreram aumento de potência (95 cavalos, no CHAMBORD e 105 no PRESIDENCE). 

Em meados desse ano surgiu uma versão esportiva, denominada RALLYE ESPECIAL, que mesclava esportividade e luxo.

Duas tomadas de ar, redondas e semelhantes às do norte-americano Chevrolet 1957, foram acrescentadas no capô do motor.



O interior (acima) era mais esportivo, mas externamente o carro ganhou apenas duas falsas entradas de ar no capô (para melhor ventilação, pensava-se), carburação e escapamento duplos, vidros verdes e alguns detalhes cromados.  Utilizava o mesmo motor do Presidence, com 105 cavalos.

Confira abaixo o RALLYE e suas discretas evoluções de estilo, até 1966.





Em novembro de 1962, no III Salão do Automóvel, a família continuou aumentando e foi apresentada a primeira station wagon brasileira, a JANGADA, derivada da perua francesa Vedette Marly, nas versões Luxo e Utilitário

Ela quase foi batizada de BANDEIRANTE, mas prevaleceu o nome JANGADA - embarcação rústica mas resistente, sendo que a perua era luxuosa, mas frágil, apesar de oferecer o mesmo conforto do CHAMBORD (o motor rendia 98 cavalos, mas era mais pesada).



Em compensação, em trajetos mais curtos, a Jangada podia transportar até 8 pessoas, graças aos dois assentos laterais (escamoteáveis) localizados no porta-malas. Bastava levantar a tampa que cobria o estepe, e, após a retirada do pneu, havia espaço para dois banquinhos (mas aí o estepe teria que ir para o teto do veículo...). 



Os bancos traseiros, por sua vez, podiam ser completamente rebaixados, formando uma ampla plataforma de carga com capacidade para 1.800 litros de bagagem. 


Mas a carroceria tinha pouca resistência à torção e era comum ver alguns exemplares do interior do país com as portas traseiras amarradas com pano ou cordas à coluna. 

A parte elétrica era uma fonte de dor de cabeça e o motor costumava superaquecer.

1963 – A Willys redesenhou totalmente o AERO, deixando-o mais requintado e moderno. O FNM 2000 JK também conquistava fatias do mercado.

Na tentativa de oferecer à classe média brasileira um carro de preço mais acessível, a Simca lançou o modelo “popular” ALVORADA, desprovido de qualquer luxo e da maioria dos cromados presentes nos demais modelos. 





Esta nova versão foi um fiasco (assim como o Willys Teimoso e o DKW Pracinha), razão pela qual o modelo logo saiu de linha com apenas 378 unidades produzidas.

1964 – A “Primeira Série” era idêntica à linha 1963, mas a “Segunda Série” trouxe a linha TUFÃO, com mudanças de ordem mecânica e estética. O pára-brisa ficou mais amplo, melhorando a visibilidade dianteira. O teto do sedan e as colunas ganharam linhas retas e a parte traseira foi elevada, oferecendo maior área envidraçada e mais espaço para os passageiros. Internamente, mais conforto e luxo, além de novos bancos. As lanternas traseiras foram redesenhadas (nova disposição de luzes, com o mesmo formato) e o modelo recebeu novos frisos. 

Os motores V8 Tufão tinham 2.414 cc (100 cavalos) e o Tufão Super, de 2.550 cc (112 cavalos e dupla carburação, onde  um carburador abria depois do outro, conforme a necessidade, durante a marcha). A linha Tufão ganhou avanço manual da ignição, localizado no painel (além do automático), que permitia melhor regulagem do motor para diferentes altitudes ou diferentes tipos de gasolina.

Nesse mesmo ano surgiu o RALLYE (mais simples que o RALLYE ESPECIAL, embora mais sofisticado que o CHAMBORD).

A perua JANGADA perdeu a versão utilitário, permanecendo apenas a Luxo.

1965 – Nesse ano a versão ALVORADA deu lugar à PROFISSIONAL, numa tentativa de seduzir frotistas e taxistas - fotos abaixo.



Ainda em 1965 a perua JANGADA incorporou o mesmo teto retilíneo e o mesmo para-brisa aplicado na série Tufão, do Chambord. 

Introduziu-se em todos os modelos a ignição transistorizada e o sistema 6-M (sobre-marcha eletro-mecânica) que multiplicava as três marchas originais por dois (opcional do RALLYE ESPECIAL e do PRESIDENCE – este também recebeu um vidro separando os passageiros do motorista).  Posteriormente o CHAMBORD também recebeu dupla carburação.

1966 - a Simca enfrentava a concorrência implacável do bonito e confiável AERO WILLYS 2600 (redesenhado em 1965), do elegante e exclusivo FNM 2000 (JK) e sabia que a Ford preparava o lançamento do . A Willys, por sua vez, lançaria nesse ano uma versão mais luxuosa do Aero, com o nome ITAMARATY.

Assim, em abril de 1966 a Simca deu um expressivo salto de qualidade ao adotar um novo motor em toda a linha: o EMI-SUL – um 8 cilindros em “V” com cabeçote de alumínio (que alojavam as válvulas), câmaras de combustão hemisféricas, novos coletores de admissão e escapamento e 2.410 cc e potência bem mais elevada (130 cavalos).

Esse novo motor permitia acelerar de 0 a 100 Km/h em apenas 14,3 segundos e a velocidade máxima atingia expressivos 160 Km/h.

No V Salão do Automóvel de 1966 foi apresentada a linha 1967, constituída apenas pelo CHAMBORD e pela perua JANGADA.

Em consequência, os modelos PRESIDENCE, RALLYE, RALLYE ESPECIAL e PROFISSIONAL deixaram de ser produzidos. 

A perua JANGADA modelo 1967 (abaixo) - última a ser produzida - ganhou uma nova coluna traseira, mais larga, que lhe deu maior rigidez estrutural e um aspecto mais robusto.


Graças às novas colunas, a tampa traseira pôde ser recuada até o nível dos para-choques, proporcionando ainda mais espaço ao já amplo porta-malas.

Os banquinhos-extras, que antes ficavam presos nas laterais, passaram a ser embutidos na tampa do assoalho (a exemplo de alguns modelos norte-americanos da época).


As portas e os pára-lamas traseiros perderam o vinco característico, em baixo relevo. Ficaram planas e arrematas por um discreto friso horizontal.

Já o derradeiro CHAMBORD modelo 1967 ganhou frisos retos nos para-lamas traseiros e, exemplo da Jangada, perdeu o tradicional estampo em baixo relevo nas portas traseiras, que se estendiam até o para-lamas.



Repare, acima, que a tampa do porta-malas também perdeu o desenho em baixo relevo e recebeu um discreto friso cromado interrompido apenas pelo discreto botão da fechadura do porta-malas.

Foi o "canto do cisne" para o elegante sedan que aqui estreou em 1959.

Continua... 

SIMCA DO BRASIL - Parte 2

ESPLANADA/REGENTE


Mas duas outras novidades da Simca no Salão do Automóvel de 1966 agradaram em cheio ao público: o ESPLANADA e o REGENTE – ambos derivados do CHAMBORD, e que o sucederam.


O sedan ESPLANADA era a versão mais luxuosa: tinha cromados e acabamento mais apurado, meio teto de vinil (opcional), câmbio 6-M, vidros verdes, madeira no painel de instrumentos, volante revestido de couro etc.

O modelo REGENTE era, portanto, a versão básica (despojada).

A nova dupla ESPLANADA/REGENTE aproveitava do CHAMBORD as seguintes partes: cabine, portas, calotas, painel/volante e o conjunto mecânico, mas a dianteira e a traseira foram totalmente redesenhadas.

Os grandes faróis, de formato circular, eram envolvidos por uma grossa moldura cromada em forma de hexágono, com lente de vidro e o pisca horizontal na parte superior. 

A grade do motor, toda cromada, era composta por frisos finos que avançavam até a extremidade, por baixo dos faróis. 

As lanterna traseiras eram verticais e bem delgadas, também envolvidas por uma moldura (cromada no ESPLANADA, mas pintada no REGENTE).


A cirurgia foi tão profunda que à primeira vista pareciam dois carros totalmente novos, mas as linhas não eram harmoniosas

A frente e a traseira foram encurtadas em relação ao velho Chambord, o que provocou um desequilíbrio de proporções.

Os pára-lamas dianteiros, por exemplo, quando vistos de lado, davam a impressão de terem sido abalroados e de “engordarem” ...

Interessante era o meio-teto de vinil “Las Vegas“ (abaixo), mas que não emplacou. Mais tarde esse recurso estilístico foi empregado, com sucesso, no Ford Maverick, no Chevrolet Opala e, também, no Dodge Magnum.


Com o fim da produção da perua Jangada, cogitou-se construir uma ESPLANADA WAGON que aproveitaria o novo teto da Jangada e o terceiro banco traseiro escamoteável, mas o projeto nunca foi concretizado.

Confira, abaixo, como teria sido interessante a perua Esplanada:

 


Em novembro de 1966 a CHRYSKER CORPORATION assumiu o controle acionário  da SIMCA DO BRASIL, mas num primeiro momento hesitou em usar sua prestigiada logomarca em produtos tão defasados tecnologicamente.

Mas a dupla ESPLANADA/REGENTE tinha virtudes: boa estabilidade, suspensão eficiente (que proporcionava um rodar suave e estável) e bons freios, além de um estilo ainda palatável.

Por estes motivos, a Chrysler decidiu enviar uma unidade de cada modelo para a matriz, nos Estados Unidos, que determinou 53 modificações.

Infelizmente a Chrysler não conseguiu resolver todos os problemas (a embreagem teimava em patinar e o diferencial continuava roncando), mas o carro ganhou a credibilidade que a marca Simca carecia.

1967 – Em fevereiro desse ano a Chrysler paralisou a produção dos veteranos CHAMBORD e JANGADA.

Em março os primeiros funcionários da matriz chegaram ao Brasil e a Simca do Brasil passou a se chamar Chrysler do Brasil S/A Indústria e Comércio.

Em agosto o ESPLANADA e o REGENTE receberam a plaqueta “Fabricado pela Chrysler”.


Em setembro o norte-americano Victor G. Pike assumiu a presidência da montadora, no Brasil, e sua primeira medida teria sido mandar LAVAR o chão da fábrica, o que acarretou na paralisação de 3 dias de produção.

Dos 1.700 funcionários remanescentes, 500 foram despedidos. O único setor que ganhou mais funcionários foi o da... faxina! Mesmo com o corte de pessoal, três meses depois a produção aumentou de 18 para 20 unidades/dia.

A Chrysler investiu muito nos dois modelos, chegando até a fazer merchandising no filme “Roberto Carlos em ritmo de aventura” - Fotos abaixo:






Para surpresa do mercado, no VI Salão do Automóvel de 1967 a dupla Esplanada e Regente modelo 1968 foi reestilizada. Ganhou 4 faróis redondos e posicionados na vertical (a exemplo do Ford Gálaxie – novo concorrente). A grade do motor também foi modificada e ficou mais encorpada.

O volante (até então o mesmo do Simca 1959) foi trocado por outro menor e mais moderno, enquanto o painel recebeu cobertura estofada e novos instrumentos, redondos, herdados da descontinuada linha DKW.

A sobre-marcha 6-M deixou de ser oferecida e os motores foram padronizados e unificados no Emi-Sul básico, de 2.400 cc e 130 cavalos.

A garantia original - de 1 ano ou 20.000 Km - passou para 2 anos ou 36.000 Km.

Abaixo, as diversas dianteiras, traseiras e interiores do Esplanada, Regente e GTX:




ESPORTIVO GTX

Também foi exibido no Salão uma nova versão esportiva, denominada GTX, com câmbio de 4 marchas e alavanca no assoalho, console com relógio e cinzeiro, bancos dianteiros individuais, volante Walrod, rádio e conta-giros.



Externamente, o destaque eram as belas rodas cromadas calçadas com pneus radiais.

A grade do motor era parcialmente pintada de preto.

Havia faixas laterais na cor preta e outros truques que rebaixavam o carro, visualmente.

Opcionalmente eram oferecidos faróis auxiliares, teto de vinil, duas falsas entradas de ar no capô, espelhos retrovisores externos montados nos pára-lamas e cintos de segurança no banco traseiro. Era um esportivo bastante interessante; pena que chegou tão tarde...

1968 – No Salão do Automóvel de 1968 a Chevrolet apresentou ao mercado o OPALA, o que provocou um “terremoto” no segmento de sedan médios, deixando evidente a defasagem tecnológica dos demais concorrentes (FNM 2150, AERO WILLYS 2600/ITAMARATY e ESPLANADA/REGENTE), que por sua vez foram projetados na década de 50...

O ESPLANADA modelo 1969 ganhou pintura metálica e bancos dianteiros individuais e câmbio de 4 marchas no assoalho (opcionais), ficando as cores sólidas para o REGENTE.

1969 – O encerramento da produção do Esplanada, Regente e GTX não ocorreu de maneira abrupta; na verdade, seguiu um bem estruturado cronograma de encerramento da produção de um produto “velho” e do início de produção de um novo veículo, com novos maquinários em novo layout da fábrica.

O Dodge Dart foi lançado em novembro, encerrando a história dos modelos da Simca no Brasil.

Baseado no modelo americano do ano anterior, o Dodge Dart brasileiro foi lançado em outubro de 1969, em substituição aos Esplanada, Regente e GTX, inicialmente na versão quatro portas, com motor V8 de 5.212cm3 e 198 CV, criando uma nova faixa de mercado localizada entre o Gálaxie, o Itamaraty e o Opala 3800.