No começo dos anos 60 a Volkswagen começou a desenvolver
uma nova “família” baseada na plataforma e na mecânica do Fusca.
O EA 97 - FOTOS ACIMA - foi o primeiro modelo projetado pela VW, mas não
chegou a ser produzido em série.
Em 1966 já se estudava a adaptação do EA97
para produção no Brasil, onde o novo VW era tratado como “Projeto B-135”.
A
base do EA 97 queimaria importantes etapas no desenvolvimento do modelo
brasileiro, lembrando que nossa indústria estava com tenros 10 anos de idade.
A
Volkswagen do Brasil pretendia lançar o sedanzinho em fins de 1967 como modelo
1968, um ano antes da concorrência. Só que a "urucubaca" acompanharia o modelo
desde sua concepção.
Vejam: o navio que transportava o ferramental e alguns
protótipos para o Brasil naufragaria no Canal da Mancha! Infelizmente só parte da
carga seria recuperada e parte do ferramental seria refeita nas antigas
instalações da Vemag (absorvida pela VW do Brasil em 1967).
Por conta desse
primeiro acidente, o 1600 4 portas só seria apresentado ao público no VI Salão do
Automóvel de São Paulo, em novembro de 1968, com início de vendas em 1969.
Aqui, ao contrário do EA97, tinha faróis retangulares, 4 portas, quebra-ventos
nas portas, outras rodas e algumas diferenças estruturais e de acabamento.
O maior concorrente do Fusca foi, sem dúvida, o Gordini –
projeto da Renault comercializado no Brasil, sob licença, pela Willys Overland
do Brasil. Só que havia um problema: no contrato de cessão dos direitos de
fabricação do Gordini uma cláusula impedia mudanças profundas no projeto, razão
pela qual ele foi fabricado sem alterações significativas até 1968 – seu último
ano de vida. O Gordini oferecia a comodidade de acesso por 4 portas e um motor
ainda mais econômico, mas não era páreo para o Fusca, mais robusto e que vendia
feito água.
Na gestão do então presidente da Willys Overland do Brasil,
Willian Max Pearce, teve início o projeto "E" (de econômico), que
consistia num veículo econômico e de baixo custo de fabricação. Mas
dificilmente o "Willys E” conseguiria um preço ao consumidor menor que o do
Fusca.
Assim, o projeto “E” deu origem ao projeto “M” (de Médio), desenvolvido
em parceria com a Renault.
Mas a Willys seria absorvida pela Ford, e esta tocaria o
projeto “M” e lançaria o produto aqui em 1968 com o nome “Corcel” (na Europa, Renault R12).
O sucesso foi imediato, pois o Ford Corcel oferecia bom espaço para os
passageiros, amplo porta-malas, desempenho satisfatório com economia, e um
preço bastante competitivo.
Em 1968 a Volkswagen já acumulava a respeitável marca de
600 mil veículos produzidos no Brasil. O carro-chefe era o Fusca, seguido do
utilitário Kombi e do esportivo Karmann-Ghia. Em comum, a mecânica simples e
robusta, de fácil manutenção e consumo comedido, principalmente se comparado
aos carros da época.
Mas faltava um modelo de passeio com linhas mais modernas
(o projeto do Fusca já contava quase 4 décadas) e que oferecesse a comodidade
de acesso das portas traseiras.
O 1600 4 portas - FOTO ABAIXO - foi a aposta da VW contra o Projeto
“M” da Willys.
Ele quase recebeu o nome “Brasília”, mas a montadora
estranhamente deixou o modelo sem um nome forte e isso colaborou para que um
“apelido” nada lisonjeiro grudasse nele, para sempre ...
Em dezembro de 1968, no “VI Salão
do Automóvel” em São Paulo, a Volkswagen apresentaria o VW 1600 Sedan 4 Portas como “um carro bonito
que não era apenas um carro bonito”, sugerindo uma beleza que o público não
captaria.
Na verdade ele chamava a atenção porque oferecia a comodidade das 4 portas (inédito em
termos de Volkswagen, que sempre defendera a ideia de que carro com 2 portas “eram
mais seguros”). Mas quem cativaria o público, mesmo, seria o Ford Corcel, que mesmo na versão sedan tinha linhas mais bem resolvidas.
Acima, estreando no VI Salão do Automóvel de 1968
Abaixo, diversos "reclames" da época.
A frente do VW 1600 4 portas era alta e tinha
um par de enormes faróis retangulares de cada lado, da Arteb – o mesmo que
equipava o Uirapuru 1967 e alguns caminhões da Ford e ônibus da Mercedes Benz
(nenhum outro modelo VW da época tinha esse visual). Os piscas – retangulares –
ficavam na junção do painel dianteiro com os para-lamas e eram bem funcionais.
A lateral era simples e retilínea, com um único friso em sua extensão. As calotas eram planas e semelhantes às do Fuscão (VW 1500).
A
traseira era bem destacada e semelhante à dianteira, mas as lanternas
retangulares eram bem estreitas (altas no 1600 4 portas, e baixas no protótipo
EA 97) e incluíam luzes-de-ré.
A tampa do motor e a do porta-malas tinham
vincos em baixo relevo, em forma de “T”.
O motor 1.600cc - FOTO ABAIXO - derivava do motor 1300 do Fusca, e era
igualmente refrigerado a ar (60 HP), alimentado por um só carburador, com
ventoinha alta como a do fusca e, naturalmente, posicionado na parte de trás do
carro.
Entre o motor e o encosto do banco traseiro ficava o tanque de gasolina.
Com esse truque, o porta-malas dianteiro - FOTO ABAIXO - oferecia uma profundidade razoável
(não tanto quanto a do Gordini, porém maior que a do Fusca). O estepe ficava
posicionado na vertical, rente à tampa do porta-malas – a exemplo do Fusca.
Atrás do encosto do banco traseiro havia um útil espaço para sacolas (bagagito semelhante ao "chiqueirinho" do Fusca) - FOTO ABAIXO.
O painel tinha apenas o velocímetro central com as
costumeiras luzes-espia, além do marcador de combustível (esquerda). Havia
previsão para um relógio de horas (à direita). O painel tinha revestimento
plástico imitando jacarandá, presente também na metade superior dos forros das
portas.
O interior seguia o padrão Volkswagen, com bons materiais, mas acabamento muito espartano.
Oficialmente o VW 1600 4 portas podia transportar até 5 pessoas, mas o ideal seriam 4 (o elevado túnel central deixaria o passageiro central do banco traseiro muito mal acomodado.
A alavanca do câmbio era mais curta que a do Fusca, mas a transmissão
era a mesma, de 4 velocidades, todas sincronizadas. As trocas de marchas eram
precisas e o curso da alavanca bem curto. Em comparação, diziam as más línguas
que a longa alavanca de câmbio do Corcel parecia “um palito espetado num
pudim”...
Mesmo sem ser assistida, a direção tinha fácil manejo e o acabamento
do volante (empunhadura fina) era uma boa referência.
Devido à grande área
envidraçada, a visibilidade era ótima em todas as direções.
Os freios
dianteiros eram a disco, de série.
A velocidade máxima girava em torno de 130
km/h e a aceleração de 0 a 80 Km/ exigia apenas 22s, mas até os 100 Km/h eram eternos 41 segundos.
O consumo médio era de 8 km/litro, lembrando que
a péssima gasolina brasileira exigia motores com baixa taxa de compressão, o
que sacrificava o desempenho e, consequentemente, as marcas de consumo.
O óleo do motor tinha que ser trocado a cada 2.500 Km rodados.
Com suspensões dianteira e
traseira à base de barras de torção, e mesmo com barra estabilizadora traseira
de série, a estabilidade do sedan em curvas era ruim, e normalmente saía de traseira nas curvas
mais fechadas. Os pneus diagonais em nada colaboravam.
As portas traseiras
desregulavam com facilidade e o que no Fusca era simples (fechar a porta) no
1600 4 portas viraria uma fonte de ruídos e aborrecimentos.
Veja detalhes do primeiro teste
do modelo pela Revista 4 Rodas aqui: http://autosclassicos.blogspot.com.br/2011/11/teste-vw-1600-ze-do-caixao.html
Continua ...
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