segunda-feira, 16 de agosto de 2021

MINI PUMA

Republico uma interessante matéria publicada pela "Revista Classic Show" sobre o Mini Puma.

No fim de 1966, o esportivo Malzoni GT originou o Puma com motor DKW instalado na dianteira. Com o fim da Vemag, em 1967, o fabricante perdeu o fornecedor de sua parte mecânica e ao reprojetar o esportivo utilizou o chassi do Karmann-Ghia com distância entre eixos 25 cm menor, e o robusto motor Volkswagen boxer refrigerado a ar na traseira.

Nessa época a Puma chegou a esboçar o projeto de um carro nacional popular, aproveitando-se que havia ferramental e funcionários disponíveis. O grande problema - mais tarde experimentado pela Gurgel - é que não seria possível produzir grandes volumes de um carro com carroceria em fibra-de-vidro. Adquirir caras prensas para estampar chapas de aço exigiria recursos que a jovem fabricante não dispunha. 


Ainda assim, Jorge Lettry, um dos colaboradores da Puma, ao retornar de uma viagem pela Europa, trouxe a notícia de que a fabricante Reliant construía até mil carros por mês (em fibra-de-vidro) graças a um processo de "cura química", em estufas especiais. Assim, o projeto de um minicarro nacional voltou às pranchetas e Miltom Masteguin (diretor técnico da Puma - foto acima) e Wilson Drauzio Brasiliense coordenaram a equipe que faria o protótipo. Por razões que só o destino conhece, Wilson faleceu em um acidente quando pilotava um Puma de competição. 

Em 1971/72, o minicarro, agora denominado "Projeto W", atraiu o interesse de um banco estrangeiro em conceder um empréstimo à Puma, mas a transação nunca se concretizou. A razão é que o empréstimo dependia de um aval do Banco Central, e o mesmo foi negado várias vezes. Assim, o projeto do Mini Puma ficou novamente engavetado. Importante frisar que entre 1971 e 1973 houve negociações entre a montadora italiana Fiat e a União, visando instalar-se no Brasil também para fabricar carros de pequena cilindrada e baixo preço... 

Em 1973, a primeira crise mundial do petróleo condenou os modelos grandes, pesados e gastões e favoreceu os carros compactos, leves e econômicos.  

Em 1974 o protótipo do Mini Puma foi apresentado ao então Presidente da República (Geisel), que recebeu os dirigentes da Puma em Brasília. Luís Roberto Alves da Costa, que era o Diretor-Presidente da Puma, queixou-se da falta de apoio governamental à iniciativa de se construir um mini carro nacional, que seria perfeitamente adequado ao trânsito caótico das cidades e contribuiria para economizar divisas com a importação do caro e raro petróleo. Ao Presidente da República foi apresentado o simpático protótipo com carroceria na cor amarela, com 4 lugares, e essa mesma unidade (confeccionada em madeira) seria mais tarde apresentada em no "IX SALÃO DO AUTOMÓVEL", com 2 lugares para adultos e 2 crianças.

O Mini Puma era quase um monovolume com para-brisa bem inclinado e ampla área envidraçada. O vidro traseiro se erguia e funcionava como uma terceira porta. Os faróis dianteiros eram redondos enquanto as lanternas traseiras eram pequenas e quadradas. A refrigeração do pequeno motor se dava por pequenos retângulos vazados na parte inferior do painel onde os faróis eram fixados. As maçanetas das portas eram bem pequenas.


 

O pequeno motor era, na prática, a metade de um motor VW boxer refrigerado a ar, e as originais 1500cc foram reduzidas à metade. Nesse "inédito" motorzinho bi cilíndrico de 4 tempos, os dois cilindros trabalhavam deitados, e eram fundidos em liga de alumínio e magnésio. Esse propulsor admitia cursos de virabrequim extremamente variáveis e com isso a cilindrada poderia variar entre 500 e 1000 cc. O protótipo utilizava uma unidade com 760 cc, que rendia 30 HP a 4.500 rpm. O carburador utilizado era um Solex de 30 mm e a parte elétrica já era em 12 volts. 



A tração também era dianteira (mas cogitou-se oferecer uma versão final com tração traseira) e a suspensão dianteira baseava-se na do Ford Corcel e tinhas barras transversais de um lado ao outro na parte traseira com pontos de fixação reguláveis, podendo ser levantada ou abaixada com facilidade. O chassi era feito de chapas de aço dobradas. O câmbio manual tinha 4 marchas, sendo as 3 primeiras bastante reduzidas e a última bem longa, o que deixaria o carrinho esperto no uso urbano e mais solto nas estradas. A direção era do tipo pinhão e cremalheira, e os freios a tambor eram os mesmos utilizados no Ford Corcel Standard, com opção de freios a disco nas rodas dianteiras. As rodas lisas, de magnésio, tinham tala de 5 polegadas (e seriam opcionais, pois de série o modelo viria com rodas de aço e a mesma tala de 5 polegadas). 


O painel era de plástico injetado e uma plataforma ia de uma extremidade à outra da carroceria, funcionando como porta-objetos. Com capacidade 2+2 (dois adultos e duas crianças), o protótipo tinha bancos altos forrados em tecido nas cores preta e amarela (lembram dos esportivos Dodge SE?), mas na versão definitiva seriam substituídos por outros mais simples, leves e baratos, do tipo Percintas - uma solução que não sacrificava o conforto e que já fora experimentada no popular Teimoso, da Willys (1965/66). 



Apesar das pequenas dimensões da carroceria (2,66 m de comprimento, 1,48 m de largura e 1,37 m de altura, com entre eixos de míseros 1,75 m) o interior parecia amplo e bem iluminado. 

 

Pesando apenas 500 Kg (260 Kg a menos que um Renault Gordini, que tinha motor de 850cc e 40 HP de potência bruta), o Mini Puma prometia velocidade máxima de 100 Km/h e consumo de até 20 Km/l de gasolina - e esse era seu principal apelo frente à crise do petróleo, que se estenderia por muitos anos mais. O tanque tinha capacidade para 30 litros, conferindo ótima autonomia. 

O carrinho seria construído em uma fábrica localizada em um terreno de 300.000 m2 em Franco da Rocha (a 25 Km de São Paulo), mas isso nunca aconteceria. 

1979 foi o melhor ano da história da empresa, com 3.609 veículos fabricados, dos quais 179 caminhões. 

Mas em 1980 a Puma recebeu um grande golpe que abalou sua saúde financeira. Aproximadamente 200 unidades do esportivo Puma foram exportadas para os Estados Unidos, mas todo o lote foi recusado. É que os exemplares enviados "estavam fora das especificações mínimas de segurança americanas, e eram diferentes da unidade que fora enviada para testes preliminares". 

Uma forte enchente na cidade de São Paulo, na região onde era localizada a fábrica da Puma, e em seguida um incêndio causou sérios e irreparáveis prejuízos. A produção despencou de 3.042 carros (montados em 1980) para 471 exemplares, em 1982.

Em 1982, no último governo militar (com o General Figueiredo ocupando a Presidência da República), Luís Roberto voltou a oferecer o projeto às "autoridades", mas desta vez havia uma importante diferença: seria produzido, sob licença, o simpático Daihatsu Cuore - um hatch com 3,20 m de comprimento, tração dianteira e motor transversal bicilíndrico de 547cc.

 


Embora visualmente o novo Mini Puma fosse bastante similar ao Cuore, sua carroceria seria feita em fibra de vidro, em vez de chapas de aço estampado. 

Infelizmente essa última tentativa não se concretizou e em 1985 a Puma entrou em processo de concordata, deixando de existir pouco depois.

Assim, enquanto a novela ROQUE SANTEIRO teve a Viúva Porcina - "a que foi sem nunca ter sido", também tivemos o protótipo do mini carro nacional da Puma - "o popular que nunca existiu".

Fotos copiadas da internet.

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