terça-feira, 3 de dezembro de 2024

DEL REY - UM BREVE HISTÓRICO E VERSÕES INUSITADAS

Nota do redator: Matéria originalmente publicada em 2020 e atualizada.

DEL REY


Diversas foram as razões de a Ford do Brasil ter lançado o luxuoso sedan Del Rey no Brasil, no distante ano de 1981.

O sucesso do Corcel II, lançado 3 anos antes, apressou o fim do Maverick - sedan médio que estreou em 1973 apenas com gastadores motores de 6 e 8 cilindros. O de 6 cilindros nada mais era o velho motor usado no antigo Itamaraty (Willys), com algumas atualizações.

As sucessivas crises mundiais do petróleo e a "surra" do rival Chevrolet Opala abalaram as vendas do Maverick, e nem a versão 4 cilindros - lançada tardiamente em 1975 - conseguiu reverter a curva descendente de vendas.

A comercialização de carros grandes e gastadores estagnou em quase todo o mundo (um pouco menos nos países membros da OPEP), e por aqui a linha Ford Landau e a Chrysler/VW com motores V8 se encerrou nos primeiros anos da década de 1980.


Carente de recursos, a Ford precisava desesperadamente de um novo carro para ocupar o lugar do Maverick (retirado de linha em 1979, sem sucessor). O veículo deveria oferecer o luxo e a exclusividade presentes no quase finado Landau, e recursos que este nunca ofereceu, como vidros elétricos, por exemplo.

Assim, a partir do Corcel II a Ford gerou não um "Corcel III", mas um sedan com a mesma medida de entre-eixos, porta-malas destacado e opção de 2 ou 4 portas.

Em prol da economia, o novo sedan aproveitava o robusto motor 1.6 do Corcel, que rendia 69 cv e atingia a modesta velocidade máxima de 137 Km/h. Números nada empolgantes, mas o antigo propulsor oferecia bom torque na cidade e - o principal - era bem econômico.


Dois erros foram percebidos, de cara, pelo exigente público ao qual o Del Rey se destinava: a distância entre-eixos deveria ser maior para oferecer mais conforto aos passageiros, principalmente os que se sentassem no banco de trás.

Da mesma forma, deveria ter sido equipado com o ainda moderno motor 2.3, 4 cilindros (exportado durante anos), que estreou em 1975, no Maverick,  e que também equipou as últimas fornadas da Rural, da picape F75 e do Jeep. 

Apesar do espaço interno acanhado e do motor "com potência apenas suficiente", o Del Rey cobria o dono de mimos e oferecia um rodar muito suave.

O acabamento esmerado era o típico da Ford daqueles anos, e havia itens de conforto e conveniência nunca antes oferecido pela montadora, como rodas de liga-leve, faróis de neblina, cintos de segurança retráteis, vidros com acionamento elétrico e travas elétricas, por exemplo.

Uma das marcas registradas do Del Rey e muito apreciada pelo consumidor era o console no teto, com luzes de leitura e um charmosos relógio digital com função de cronômetro, envolvidos por um irresistível mostrador na cor azul. O painel de instrumentos, por sua vez, era completo e novamente uma referência no segmento.

Naqueles difíceis anos 80 ainda era proibido importar carros de passeio. O crédito era escasso, a inflação alta e ascendente e a indústria automobilística pouco investia no país. Contra tudo e contra todos o Del Rey foi um carro muito bem sucedido.

A opção de 2 portas parecia destoar do segmento, em se tratando em um carro de luxo e normalmente o dono senta no banco de trás... mas o brasileiro tinha o estranho hábito de preferir carros com essa configuração. Tanto que foi a mais vendida.

Já a versão 4 portas facilitava o acesso ao banco de trás, mas parecia mais "careta" e talvez deixasse ainda mais evidente que o espaço na traseira da cabine era menos generoso que o desejado.

O câmbio automático foi um interessante opcional disponibilizado a partir de 1983. Nesse ano foi lançada a perua Scala Del Rey - uma Belina com o mesmo acabamento e conforto do sedan Del Rey, mas apenas com 2 portas. Mas ela não convenceu o mercado que apresentava novidades e ficava cada vez mais exigente.


Pra começo de conversa, um carro "para a família" deve oferecer 4 portas, e não apenas 2 - pesadas e enormes, que dificultavam a entrada e saída de pessoas em vagas estreitas. A título de comparação, a perua VW Santama Quantum (lançada em 1984) tinha sempre 4 portas, e fez muito sucesso...

Em 1984 a Ford estreou o motor CHT 1.6, evolução do anterior e estendido ao recém-lançado Escort.

A linha Del Rey para 1986 teve um providencial "face lift" (novos faróis/piscas, grade do motor passou a ser horizontal e na cor da carroceria, lanternas traseiras caneladas e outros aperfeiçoamentos). A direção hidráulica passou a ser item de série.


Nesse mesmo ano surgiu a cara - e cobiçadíssima versão Ghia (topo de linha).

No fim dos anos 80, a fusão da Ford e da Volkswagen na malsucedida AUTOLATINA, permitiu ao Del Rey receber um motor à altura, o conhecido AP 1.8 (95 cv) da Volkswagen, que deu a desejada agilidade ao sedan, sem consumir muito mais.

O lançamento do Verona e do Apollo (versões sedan do Escort) decretaram o fim da linha Del Rey já em 1991, após 350.000 unidades produzidas.

VERSÕES ARTESANAIS

Na década em que o Del Rey esteve presente no mercado, não faltaram opções artesanais que davam ainda mais exclusividade ao veículo.

A versão conversível era mesmo "de virar a cabeça". Deixava o carro muito esportivo e, ao mesmo tempo, elegante... desde que não se levantasse a capota de nylon.

A Santo Amaro, a Engerauto e a Souza Ramos produziram essa versão, sob encomenda, até hoje atraente.

 

 

 

LIMOUSINE DEL REY



A exclusivíssima versão limousine, com diferentes "enxertos" na carroceria, acrescentaram o espaço extra que sempre faltou ao Del Rey e permitiam a livre movimentação das pernas dos afortunados passageiros do banco de trás, bem como o acesso ao interior do carro. Quanto ao design... o resultado é bastante polêmico.


As concessionárias Engerauto, a Santo Amaro e a Souza Ramos produziram algumas unidades, mas em razão do preço elevado e do resultado estético discutível (além do motor fraco), não fizeram o sucesso esperado.