A sigla SIMCA originalmente significa Société
Industrielle de Mécanique et Carrosserie Automobile - era uma fábrica de
automóveis francesa fundada em Nanterre, em 1935, pelo empresário italiano
Enrico Pigozzi.
No começo da década de 50 a Simca havia
escolhido o Brasil para ser a filial americana, e a idéia inicial era produzir
em conjunto com a FIAT (que forneceria um novo motor, em substituição Ford
Aquilllon, de 1932). Essa fábrica seria instalada na cidade de Santa Luzia/MG.
Com o suicídio de Vargas, em 1954, a Fiat desistiu do projeto.
Como o Plano de
Metas de JK previa a instalação de uma indústria automobilística nacional, a
Simca retomou o projeto.
1958 - A filial brasileira foi fundada em 5 de
maio de 1958 e, aqui, a sigla SIMCA passou a significar Sociedade Industrial de
Motores, Caminhões e Automóveis.
Ela ocupou as antigas instalações da Brasmotor
(que montava carros americanos da marca Chrysler), situada no Km 23 da Via
Anchieta, defronte à fábrica da Volkswagen.
O modelo escolhido para ser produzido aqui
(CHAMBORD) era muito semelhante ao Simca francês VEDETTE.
Vide abaixo um dos primeiros modelos aqui
vendido.
1959 - Após vários testes com 47
"Vedettes" franceses, é iniciada em 7 de março a produção do CHAMBORD
no Brasil, com baixíssimo nível de nacionalização.
Na verdade os carros não
foram produzidos aqui; vieram da França, completamente desmontados, sendo suas
peças reunidas a algumas poucas aqui produzidas, como bateria, molas,
tapeçaria, sistema de escapamento, mangueiras e outros pequenos itens.
Para se
ter uma ideia, na soleira das portas vinha inscrita a palavra VEDETTE e não
CHAMBORD... De qualquer forma, ele impactou o mercado de forma muito positiva.
Medindo 4,75m de comprimento, era um elegante sedan com linhas tipicamente
norte-americanas (rabo-de-peixe), 4 portas e capacidade para até 6 pessoas, com
porta-malas igualmente amplo.
O motor Aquilon, apesar de V8, fora concebido
na década de 30 e rendia apenas 88 cavalos. O câmbio tinha 3 marchas (a 1ª não
era sincronizada), com alavanca na coluna de direção. Até que não era um carro
tão “gastão” (fazia média de 8 Km/l), mas a velocidade máxima era bem modesta:
135 km/h, embora compatível com o calçamento precários das ruas e estradas da
época.
A suspensão dianteira (McPherson) deixava o carro bem estável e absorvia
bem as irregularidades do piso. Na época de seu lançamento não encontrou
concorrentes, pois somente outros 6 veículos nacionais eram produzidos: a
Romi-Isetta, a perua DKW, os VW Fusca e Kombi, além dos utilitários Jeep e
Rural, da Willys – todos de segmentos inferiores. Mas o lançamento
“precipitado” acarretou uma série de problemas, como a facilidade de
superaquecimento do motor, a embreagem fraca (patinava constantemente) e a
falta de torque, especialmente em baixas rotações.
1960 – Em 16 de abril foi produzido o 2.000º
exemplar e, em homenagem à futura nova capital do país, foi pintado em duas
cores: verde folha e marfim.
A fundição dos motores nacionais teve início em 30
de agosto. Nesse ano a Willys lançou o Aero e a FNM começou a produzir o JK, o
que obrigou a Simca a resolver depressa os problemas de seu belo automóvel.
Assim, em setembro foi lançada uma nova versão, topo de linha, denominada PRÉSIDENCE.
A maior diferença de estilo do PRÉSIDENCE em relação ao
CHAMBORD, era o “estepe continental” (preso do lado de for, na tampa do
porta-malas).
Internamente, destacavam-se os bancos de couro, ar condicionado,
luzes de leitura para os passageiros, rádio de longo alcance e até bar com
copos de cristal no compartimento dos passageiros. O motor, com dois
carburadores de corpo duplo e uma taxa de compressão maior, rendia 94 cavalos.
1961 – Em abril foi lançada a “Segunda Série”
do CHAMBORD, com índice de nacionalização próximo de 90%.
Foram adotados novos
frisos laterais e um emblema em forma e andorinha, montado em ambos os
pára-lamas dianteiros.
Em outubro as calotas raiadas foram substituídas pelo
estilo “turbina”, com imitação de “cubo rápido”. Nesse mês foi lançada a linha 1962.
1962 – Em abril foi lançada a série “Três
Andorinhas”. Os motores sofreram aumento de potência (95 cavalos, no CHAMBORD e
105 no PRESIDENCE).
Em meados desse ano surgiu uma versão
esportiva, denominada RALLYE ESPECIAL, que mesclava esportividade e luxo.
Duas tomadas de ar, redondas e semelhantes às do
norte-americano Chevrolet 1957, foram acrescentadas no capô do motor.
O interior era mais esportivo, mas
externamente o carro ganhou apenas duas entradas de ar no capô (para melhor
ventilação, dizia-se), carburação e escapamento duplos, vidros verdes e alguns
detalhes cromados. Utilizava o
mesmo motor do Presidence, com 105 cavalos.
Confira abaixo o RALLYE e suas evoluções de
estilo até 1966.
Em novembro de 1962, no III Salão do Automóvel,
a família continuou aumentando e foi apresentada a primeira station wagon
brasileira, a JANGADA, derivada da perua francesa Vedette Marly, nas versões
Luxo e Utilitário. Ela quase foi batizada de BANDEIRANTE, mas prevaleceu o nome
JANGADA - embarcação rústica mas resistente, sendo que a perua era luxuosa, mas
frágil... Apesar de oferecer o mesmo conforto do CHAMBORD (o motor rendia 98
cavalos, mas era mais pesada).
Em compensação, em trajetos mais curtos, a Jangada podia
transportar até 8 pessoas, graças aos dois assentos laterais (escamoteáveis)
localizados no porta-malas. Bastava levantar a tampa que cobria o estepe, e,
após a retirada do pneu, havia espaço para dois banquinhos (mas aí o estepe
teria que ir para o teto do veículo...). Os bancos traseiros, por sua vez,
podiam ser completamente rebaixados, formando uma ampla plataforma de carga com
capacidade para 1.800 litros de bagagem. Mas a carroceria tinha pouca
resistência à torção e era comum ver alguns exemplares do interior do país com
as portas traseiras amarradas com pano ou cordas à coluna. A parte elétrica era
uma fonte de dor de cabeça e o motor costumava superaquecer.
1963 – A Willys redesenhou totalmente o AERO,
deixando-o mais requintado e moderno. O FNM 2000 JK também conquistava fatias
do mercado.
Na tentativa de oferecer à classe média
brasileira um carro de preço mais acessível, a Simca lançou o modelo “popular”
ALVORADA, desprovido de qualquer luxo e da maioria dos cromados presentes nos
demais modelos. Esta nova versão foi um fiasco (assim como o Willys Teimoso e o
DKW Pracinha), razão pela qual o modelo logo saiu de linha com apenas 378
unidades produzidas.
O popular ALVORADA - clique nas imagens abaixo para
ampliá-las.
1964 – A “Primeira Série” era idêntica à linha
1963, mas a “Segunda Série” trouxe a linha TUFÃO, com mudanças de ordem
mecânica e estética. O pára-brisa ficou mais amplo, melhorando a visibilidade
dianteira. O teto do sedan e as colunas ganharam linhas retas e a parte
traseira foi elevada, oferecendo maior área envidraçada e mais espaço para os
passageiros. Internamente, mais conforto e luxo, além de novos bancos. As
lanternas traseiras foram redesenhadas (nova disposição de luzes, com o mesmo
formato) e o modelo recebeu novos frisos.
Os motores V8 Tufão tinham 2.414 cc (100
cavalos) e o Tufão Super, de 2.550 cc (112 cavalos e dupla carburação,
onde um carburador abria depois do
outro, conforme a necessidade, durante a marcha). A linha Tufão ganhou avanço
manual da ignição, localizado no painel (além do automático), que permitia
melhor regulagem do motor para diferentes altitudes ou diferentes tipos de
gasolina.
Nesse mesmo ano surgiu o RALLYE (mais simples
que o RALLYE ESPECIAL, embora mais sofisticado que o CHAMBORD).
A perua JANGADA perdeu a versão utilitário,
permanecendo apenas a Luxo.
1965 – Nesse ano a versão ALVORADA deu lugar à
PROFISSIONAL, numa tentativa de seduzir frotistas e taxistas - fotos abaixo.
Abaixo, o PROFISSIONAL - para taxistas.
Ainda em 1965, a perua JANGADA ganhou o mesmo
teto retilíneo e o pára-brisa da linha sedan Tufão.
Introduziu-se em todos os modelos a ignição
transistorizada e o sistema 6-M (sobre-marcha eletro-mecânica) que multiplicava
as três marchas originais por dois (opcional do RALLYE ESPECIAL e do PRESIDENCE
– este também recebeu um vidro separando os passageiros do motorista). Posteriormente o CHAMBORD também recebeu
dupla carburação.
1966 - a Simca enfrentava a concorrência
implacável do bonito e confiável AERO WILLYS 2600 (redesenhado em 1965), do
elegante e exclusivo FNM 2000 (JK) e sabia que a Ford preparava o lançamento do . A Willys, por sua vez, lançaria nesse ano uma versão mais luxuosa do
Aero, com o nome ITAMARATY.
Assim, em abril de 1966 a Simca deu um expressivo salto
de qualidade ao adotar um novo motor em toda a linha: o EMI-SUL – um 8
cilindros em “V” com cabeçote de alumínio (que alojavam as válvulas), câmaras
de combustão hemisféricas, novos coletores de admissão e escapamento e 2.410 cc
e potência bem mais elevada (130 cavalos).
Esse novo motor permitia acelerar de 0 a 100
Km/h em apenas 14,3 segundos e a velocidade máxima atingia expressivos 160
Km/h.
No V Salão do Automóvel de 1966 foi apresentada
a linha 1967, constituída apenas pelo CHAMBORD e pela perua JANGADA.
Em consequência, os modelos PRESIDENCE, RALLYE, RALLYE ESPECIAL
e PROFISSIONAL deixaram de ser produzidos.
A perua JANGADA modelo 1967 (foto ao lado) - última a ser produzida - ganhou
uma nova coluna traseira, mais larga, que lhe deu maior rigidez estrutural e um aspecto mais robusto.
Graças às novas colunas, a tampa
traseira pôde ser recuada até o nível dos para-choques, proporcionando ainda mais espaço ao já amplo porta-malas.
Os banquinhos-extras, que antes ficavam presos nas
laterais, passaram a ser embutidos na tampa do assoalho (a exemplo de alguns
modelos norte-americanos da época).
As portas e os pára-lamas traseiros
perderam o vinco característico, em baixo relevo. Ficaram planas e arrematas por um discreto friso horizontal.
Já o derradeiro CHAMBORD modelo 1967 ganhou
frisos retos nos para-lamas traseiros e, exemplo da Jangada, perdeu o tradicional estampo em
baixo relevo nas portas traseiras, que se estendiam até o para-lamas.
A tampa
do porta-malas também perdeu o desenho em baixo relevo e recebeu um discreto
friso cromado interrompido apenas pelo discreto botão da fechadura do porta-malas.
Foi o "canto do cisne" para o
elegante sedan que aqui estreou em 1959.
Continua...
Uma correção: a Simca não ocupou as instalações da Brasmotor mas sim as da Varam Motores, onde hoje está instalado um CD das Casas Bahia.
ResponderExcluirOlá, a informação da primeira "fábrica" da Simca do Brasil na Brasmotor foi obtida na pág. 87 do livro "SIMCA - A HISTÓRIA DESDE AS ORIGENS", de Paulo Cesar Sandler & Rogério de Simone. Abraço, ADRIANO ESTEVES
ResponderExcluirMuito boa matéria
ResponderExcluircompleta a materia
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