No início da década de 1990 o então Presidente
Collor – ciente da profunda defasagem tecnológica dos carros nacionais – usou a
força do início do mandato para escancarar as importações, pondo fim à reserva
de mercado. Foi graças à essa porcaria de “reserva” que durante décadas tivemos
que nos contentar com carros caros, defasados e exaustivamente reestilizados –
verdadeiras “carroças”.
A Volkswagen fazia parte da Autolatina (joint-venture
com a Ford) e o Gol já tinha atributos de sobra para suceder o Fusca.
Entretanto, em 1993, após o impedimento do Presidente
Collor e a ascensão do Vice Itamar Franco, foi sugerido às acomodadas montadora
aqui instaladas (Volkswagen, Chevrolet, Ford e Fiat) que produzissem carros
populares – para incrementar a produção e venda de veículos, gerar mais
empregos, mais impostos etc.
Em fevereiro foi assinado o protocolo do carro
popular, com IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) simbólico de 0,1%. A
categoria de “carro popular” foi inicialmente concebida para veículos com motor
de, no máximo, 1.000 cc – e que custassem US$ 6,8 mil. Quem "lambeu os beiços"
foi a Fiat (a Gurgel já estava fora do páreo), pois desde 1976 dispunha de um
motor com 1.050cc (usado no modelo 147 e, depois, no Uno) que, com pequenos
ajustes, deu origem a um motor com 999cc. Mas como no Brasil a exceção à regra
é algo levado muito a sério, a legislação foi alterada (adivinhem a pedido de
quem?) de forma a permitir que carros com motor 1.600 refrigerados a ar
pudessem ser enquadrados como populares. Até então a Volkswagen não dispunha
de nenhum motor 1.0 em seu portfólio e, para ganhar tempo junto ao consumidor, chegou a afirmar que “não produziria carros com motor 1.000cc porque seriam
inseguros”. Pura bravata: até o fim da década de 1960 a VW do Brasil também
dizia que "carros com 4 portas eram menos seguros que os seus, que só tinham 2
portas".
Quando a Ford lançou o Escort 1.0 e as vendas do modelo reagiram, a VW
tratou de usar o mesmo motor no Gol para usufruir do imposto mais baixo.
O plano de estabilização financeira bancado
pelo então Presidente Itamar Franco deu origem à nossa atual moeda - o Real - e a
economia brasileira finalmente começou a se estabilizar. A entrada maciça de
carros importados foi acompanhada de importantes lançamentos no mercado nacional.
Reza a lenda que o relançamento do Fusca, ainda em 1993, teria sido a "resposta
da Volkswagen aos apelos do então presidente Itamar Franco para que a indústria
começasse a produzir carros para o povo".
Reunindo qualidades como durabilidade, robustez
e manutenção barata, o Fusca havia dominado o mercado duas décadas antes. Ele originou o Brasília (1973) que era mais moderno e espaçoso, mas que deixou
de ser produzido em 1981 para não concorrer com o Gol – lançado em 1980. Este
nasceu com o velho motor 1.300 refrigerado a ar, do Fusca, mas era tão fraco
que logo ganhou uma versão 1.600, também refrigerada a ar (o mesmo da finada
Brasília) e, em 1984, a opção do motor 1.6 refrigerado a água – que o salvou do
fracasso.
O Fusca sobreviveu até 1986 (desde 1984 somente
com motor 1.6 a ar) e se despediu do mercado com uma versão de despedida
entitulada “Última Série”.
Dizem alguns entendidos que a VW errou ao optar
pelo fim do Brasília, em vez do Fusca. Mas em 1986 o fusca finalmente foi
sacrificado para impulsionar as vendas da linha Gol-Voyage-Parati. De fato, as
vendas do Gol deslancharam a partir de 1987.
Mas é interessante anotar o que a Volkswagen
disse na despedida do Fusca, em 1986: “Às vezes o avanço tecnológico de uma
empresa não está no que ela faz, mas no que deixa de fazer”.
No relançamento do
carro, a revista 4 Rodas disse: “Se o contrário também vale, então viva o
retrocesso!” – e dava ao menos “10 razões para não se comprar o Fusca relançado
em 1993”.
ABAIXO, O CRASH TEST DO FUSCA ITAMAR E O PROTÓTIPO
A Autolatina gastou US$ 30 milhões para poder
produzir o Fusca novamente, que ressuscitou em 23 de agosto de 1993
inicialmente apenas movido a álcool (58,7 cv) e custando US$ 7.200 (preço dos
carros populares na ocasião).
CONFIRA ALGUMAS DAS PROPAGANDAS DE RELANÇAMENTO
(CLIQUE NAS FOTOS PARA AMPLIÁ-LAS)
Os maquinários usados para produzir novamente o Fusca tinham sido vendidos aos fabricantes de peças de reposição do modelo. A VW, então, passou a comprar partes produzidas por esses fabricantes.
Algumas fotos aqui publicadas foram coletadas
em diversos sites.
Continua...
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